domingo, 4 de novembro de 2012

O ORGULHO INSULAR



A política energética é, sem dúvida nenhuma, um dos pilares da economia de qualquer estado ou região. Atualmente os governos, se visionários, desenvolvem esforços no sentido de promover estratégias estruturantes que conduzam à máxima potenciação dos seus recursos energéticos. Os Açores não podem fugir a este cenário de crescente procura pela autonomia energética. Possuímos um reconhecido potencial inexplorado que nos coloca na linha da frente para a valorização e aproveitamento dos nossos recursos endógenos respondendo às exigências do presente-futuro paradigma energético. Seremos algum dia cem por cento autónomos? A resposta a esta questão não é linear mas a minha convicção num cenário realista terá de ser negativa. Todavia uma região com uma base energética altamente dependente da importação de combustíveis está, à partida, condenada à estagnação económica e à volatilidade dos mercados internacionais. Por isso, urge a definição de políticas direcionadas para a definição do que se pretende para estas nove ilhas “plantadas” no meio do atlântico e abençoadas com extraordinários recursos naturais de elevado potencial, à nossa escala. Em qualquer cenário admissível a necessidade de encontrar fontes de energia alternativas aos combustíveis fósseis importados é estrutural.
Qualquer região que pretenda orientar o seu modelo energético tem de forçosamente olhar para o exemplo islandês, país que tem sido referido mundialmente como exemplo, também, a outros níveis como bem se sabe. A Islândia é um país insular europeu situado no oceânico atlântico norte. Geologicamente fica situada no limite divergente entre as placas tectónicas norte-americana e euro-asiática, denominado por Crista Médio-Atlântica. É caracterizada por uma intensa atividade vulcânica e recursos hidrológicos abundantes que, bem explorados, permitiram fazer deste país um exemplo mundial ao nível do aproveitamento de recursos endógenos para produção de energia primária. Atualmente, na Islândia, 100% da energia elétrica é renovável, produzida por via hídrica e geotérmica. Cerca de 81% da energia primária necessária para produção de eletricidade e aquecimento é renovável (geotérmica). Os restantes 19% ainda correspondem à utilização de petróleo, essencialmente para os transportes rodoviários e frota de pescas, mas as estratégias em curso permitirão, numa escala temporal relativamente curta, eliminar os combustíveis fósseis do panorama energético da ilha. Independentemente da inegável importância do conhecimento científico atualmente existente naquela região, referência mundial ao nível da investigação técnica e académica no sector energético, há um fator determinante para o sucesso do modelo energético Islandês: a mentalidade dos seus cidadãos que veem no exemplo do seu país uma questão de orgulho nacional. Todos trabalham em consonância e com um objetivo comum: a sua sustentabilidade energética, a preservação dos seus recursos e a sua economia. Só por curiosidade, os islandeses ocupam o segundo lugar na tabela do índice de desenvolvimento humano, logo atrás da Noruega - outro exemplo de uma nação com um modelo energético de referência –,  e é uma das nações mais igualitárias do mundo de acordo com o coeficiente de Gini.
A economia islandesa assenta na exportação de pescado e na industria de produção e transformação de alumínio, que requer quantidades exorbitantes de calor e eletricidade. Quando a americana ALCOA pretendeu construir uma fundição em Reydarfjordur foi necessário construir uma nova central elétrica. O processo só avançou após referendo nacional e depois da população ficar a saber qual a relação custo/benefício do investimento. Isto diz muito da mentalidade dos islandeses que oferecem eletricidade para a industria a 3 cêntimos/kWh (uma das tarifas mais baixas do mundo) mas não sem garantias e sem o próprio envolvimento e comprometimento dos seus cidadãos. É chegada a hora (e já vamos tarde) de abraçar o futuro energético dos Açores como uma questão de orgulho insular! Deixemo-nos de planos e discursos inconsequentes. Passemos à ação e façamos da energia uma marca açoriana. Não somos uma somos nove. Somos um povo particularmente diferente. Mas somos capazes, assim queiramos! 

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