segunda-feira, 11 de março de 2013

ILUMINAÇÃO PÚBLICA: O NOVO QUADRO TARIFÁRIO E A FATURA DOS MUNICÍPIOS (2ª parte)


Na primeira parte desta reflexão procurei traçar o quadro de transição das tarifas de iluminação pública (IP) que já originou, pelo menos da parte dos municípios, a manifestação de alguma preocupação face ao aumento dos valores faturados nos primeiros meses do ano e que nalguns casos ultrapassa os 30%. Recordando a essência do que escrevi há quinze dias, foi extinta a tarifa específica de IP nos Açores, Madeira e Continente e passou a aplicar-se o tarifário geral de baixa tensão acrescido da taxa de potência contratada, que não existia. Este novo quadro implicou um aumento do tarifário mesmo que os clientes tenham optado pela tarifa mais vantajosa, neste caso, a tri-horária. Não são raros os casos em que a despesa com IP representa mais de 50% do custo mensal de energia dos municípios.
A Iluminação Pública é um segmento de desenvolvimento essencial à qualidade de vida nos centros populacionais, atuando como instrumento de cidadania e permitindo aos habitantes desfrutar, plenamente, do espaço público no período noturno. No entanto e face ao atual cenário, urge reduzir consumos. A sustentabilidade de qualquer solução passa pela remodelação gradual e sustentada das redes de IP, ao nível da substituição de luminárias por equipamentos mais eficientes de tecnologia LED. As atuais soluções em comercialização oferecem, além do mesmo nível de intensidade luminosa com menos potência, uma vasta gama de ferramentas de gestão técnica que permitem maximizar a redução do consumo de energia mantendo os níveis de conforto ambiente e segurança em IP.
Em tempo de restrições orçamentais, com uma economia estagnada, um desemprego histórico e muitas pessoas a “cair” na pobreza, pode parecer no mínimo inusitado defender a canalização de investimentos para redes de IP. No entanto, avaliando esta opção de outro ângulo, a redução significativa da despesa dos municípios e do próprio Governo dos Açores neste setor, que ultrapassa os 3M€ anuais, pode libertar verbas que serviriam outros fins com a vantagem de manter a qualidade da IP nas vias e espaços públicos da região. Existia cabimento no quadro comunitário de apoio que agora termina e existirá, certamente, no próximo. Foi o que fizeram recentemente alguns municípios do país, por exemplo, Reguengos de Monsaraz (substituição de 260 luminárias, redução de 64% no consumo), Valpaços (substituição de 66 luminárias, redução de 46%), ou Ílhavo (substituição de 100 luminárias, redução de 84% no consumo), todos estes projetos com retorno de investimento previsto a rondar os cinco anos para luminárias com vida útil de 25 anos.
Deve partir-se do pressuposto de que a EDA tem como principal área de negócio a produção, aquisição e venda de energia elétrica. Dizendo de outra forma, o objetivo da EDA é vender eletricidade. E quanto mais vender melhor. A elétrica regional também não tem interesse na redução de consumos particularmente durante a noite por razões técnicas de penetração de energias renováveis como a eólica e a geotérmica. A solução parece-me residir num trabalho articulado entre todas as entidades com intervenção na matéria: EDA, governo regional e municípios, mas com ênfase nestas últimas. Os projetos de instalações de IP devem centrar-se nas autarquias e direção regional competente em matéria de energia, no que toca ao dimensionamento, escolha das tecnologias e características técnicas, com a EDA e a entidade regional com competência em matéria de transportes terrestres intervindo apenas no licenciamento (ligação à rede elétrica e verificação do cumprimentos dos normativos legais em matéria de segurança rodoviária). A manutenção deve ficar a cargo dos municípios ou governo, conforme o caso, e nunca ser entregue à EDA como acontece atualmente.
Parece-me óbvio que está nas mãos dos próprios municípios alterar os atual estado das coisas, exercendo pressão contra os interesses instalados e investindo em algo realmente importante a bem da sua saúde financeira e da qualidade de vida dos seus munícipes.

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