Para um típico açoriano dos sete
costados, esquiar deve ser, talvez, das últimas coisas que pensaria fazer nas
suas férias. E por razões óbvias, penso eu. Mas para um habitante do Dubai essa
talvez seja a atividade mais divertida para fazer numa tarde de verão.
Apresento-vos o Sky Dubai, a maior estância de esqui do Médio Oriente.

Neste
complexo de aproximadamente 25 andares de altura e 22.500m2 de área, a temperatura ambiente é mantida a uns
confortáveis -2 graus Celsius, perfeita para esquiar no verão! No exterior
poderá estar calor suficiente para estrelar um ovo na capota de um dos carros
luxuosos que brilham no parque de estacionamento, sob o ardente sol de um dos
desertos mais quentes do mundo. Mas dentro do edifício há neve espantosa (100%
artificial) para esquiar, fazer snowboard ou simplesmente brincar. O Sky Dubai
tem cinco pistas de diferentes graus de dificuldade, extensão, altura ou
inclinação, capazes de fazer as delícias do mais vasto leque de esquiadores. Mas
se não gosta de esquiar pode sempre dar um passeio pelas lojas ou bebericar um
chocolate quente no revigorante ar fresquinho, um consolo quando lá fora estão
mais de 40 graus à sombra. Mesmo não sendo um Vail ou Chamonix, a verdade é que
o Sky Dubai oferece-nos três mil metros quadrados de neve perfeita no meio do
calor das arábias.

Se vivesse no Dubai, talvez fosse uma das
mais de 3000 pessoas que diariamente frequentam a estância de esqui. Mas como
sou um condutor açoriano e preciso de encher o meu depósito de gasolina
preferia que o simpático povo do Dubai viajasse para uma estância de esqui com
neve natural e parasse de queimar uma quantidade obscena de petróleo e gás
natural para fazer neve artificial. A energia utilizada no Sky Dubai e no
gigantesco centro comercial onde se encontra equivale a 3500 barris de petróleo
por dia, aproximadamente 556.500 litros de crude. Sendo este mais ou menos o
número de visitantes do espaço, dá cerca de um barril de petróleo (159 litros)
por pessoa. Com um barril de petróleo conseguimos extrair em média 105 litros
de gasolina. Portanto, um dia nas pistas do Sky Dubai daria para conduzir um
carro médio durante quase 2000km!
Mas os esquiadores do Dubai pouco se
importam com isso nem tão pouco com o preço da gasolina na minha bomba
preferida. Afinal, é o seu petróleo. Então porque é que eu me hei-de importar
com a quantidade de petróleo que os árabes queimam nos seus tempos de lazer?
Porque a crescente sede de petróleo dos países produtores da OPEP tem
influência no preço da gasolina que eu e você metemos nos nossos carros!
Se um aumento do custo do barril de
petróleo leva, certamente, a um consumo racional do condutor açoriano, isso não
acontece com o típico condutor da Venezuela, do Dubai, da Arábia Saudita ou do
Irão. Porque o custo dos combustíveis nestes países é altamente subsidiado, ou
seja, muito barato (entre 15 a 45 cêntimos por litro de gasolina,
aproximadamente). Estes subsídios desafiam a lógica do comportamento económico
racional: quando os preços do petróleo aumentam nos mercados internacionais
seria de esperar que o consumo nestes países baixasse. Mas isso não acontece.
Preços mais elevados deveriam fazer inundar o mercado internacional de petróleo
para fazer baixar o preço. Mas com o crescente aumento do consumo dos países
que até há bem pouco tempo eram sobretudo exportadores aliada à crescente
escassez das reservas convencionais, menos petróleo sobra para exportar o que
faz aumentar ainda mais o preço do barril. Ou seja, vendem menos mas mais caro
e assim conseguem subsidiar os seus combustíveis e aumentar o consumo interno!
E com os preços mais caros quem paga mais? O simpático condutor açoriano!
O preço do petróleo de três dígitos (mais
de 100 dólares) veio para ficar e cada vez será maior. E de nada servem as
novas descobertas e as novas técnicas de extração e produção. Aliás, contribuem
para agravar ainda mais o preço.
Sem comentários:
Enviar um comentário