domingo, 24 de março de 2013

ESQUIAR NO DESERTO



Para um típico açoriano dos sete costados, esquiar deve ser, talvez, das últimas coisas que pensaria fazer nas suas férias. E por razões óbvias, penso eu. Mas para um habitante do Dubai essa talvez seja a atividade mais divertida para fazer numa tarde de verão. Apresento-vos o Sky Dubai, a maior estância de esqui do Médio Oriente.
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Neste complexo de aproximadamente 25 andares de altura e 22.500m2 de área, a temperatura ambiente é mantida a uns confortáveis -2 graus Celsius, perfeita para esquiar no verão! No exterior poderá estar calor suficiente para estrelar um ovo na capota de um dos carros luxuosos que brilham no parque de estacionamento, sob o ardente sol de um dos desertos mais quentes do mundo. Mas dentro do edifício há neve espantosa (100% artificial) para esquiar, fazer snowboard ou simplesmente brincar. O Sky Dubai tem cinco pistas de diferentes graus de dificuldade, extensão, altura ou inclinação, capazes de fazer as delícias do mais vasto leque de esquiadores. Mas se não gosta de esquiar pode sempre dar um passeio pelas lojas ou bebericar um chocolate quente no revigorante ar fresquinho, um consolo quando lá fora estão mais de 40 graus à sombra. Mesmo não sendo um Vail ou Chamonix, a verdade é que o Sky Dubai oferece-nos três mil metros quadrados de neve perfeita no meio do calor das arábias.
Se vivesse no Dubai, talvez fosse uma das mais de 3000 pessoas que diariamente frequentam a estância de esqui. Mas como sou um condutor açoriano e preciso de encher o meu depósito de gasolina preferia que o simpático povo do Dubai viajasse para uma estância de esqui com neve natural e parasse de queimar uma quantidade obscena de petróleo e gás natural para fazer neve artificial. A energia utilizada no Sky Dubai e no gigantesco centro comercial onde se encontra equivale a 3500 barris de petróleo por dia, aproximadamente 556.500 litros de crude. Sendo este mais ou menos o número de visitantes do espaço, dá cerca de um barril de petróleo (159 litros) por pessoa. Com um barril de petróleo conseguimos extrair em média 105 litros de gasolina. Portanto, um dia nas pistas do Sky Dubai daria para conduzir um carro médio durante quase 2000km!
Mas os esquiadores do Dubai pouco se importam com isso nem tão pouco com o preço da gasolina na minha bomba preferida. Afinal, é o seu petróleo. Então porque é que eu me hei-de importar com a quantidade de petróleo que os árabes queimam nos seus tempos de lazer? Porque a crescente sede de petróleo dos países produtores da OPEP tem influência no preço da gasolina que eu e você metemos nos nossos carros! 
Se um aumento do custo do barril de petróleo leva, certamente, a um consumo racional do condutor açoriano, isso não acontece com o típico condutor da Venezuela, do Dubai, da Arábia Saudita ou do Irão. Porque o custo dos combustíveis nestes países é altamente subsidiado, ou seja, muito barato (entre 15 a 45 cêntimos por litro de gasolina, aproximadamente). Estes subsídios desafiam a lógica do comportamento económico racional: quando os preços do petróleo aumentam nos mercados internacionais seria de esperar que o consumo nestes países baixasse. Mas isso não acontece. Preços mais elevados deveriam fazer inundar o mercado internacional de petróleo para fazer baixar o preço. Mas com o crescente aumento do consumo dos países que até há bem pouco tempo eram sobretudo exportadores aliada à crescente escassez das reservas convencionais, menos petróleo sobra para exportar o que faz aumentar ainda mais o preço do barril. Ou seja, vendem menos mas mais caro e assim conseguem subsidiar os seus combustíveis e aumentar o consumo interno! E com os preços mais caros quem paga mais? O simpático condutor açoriano!
O preço do petróleo de três dígitos (mais de 100 dólares) veio para ficar e cada vez será maior. E de nada servem as novas descobertas e as novas técnicas de extração e produção. Aliás, contribuem para agravar ainda mais o preço.

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