
Tenho ouvido
variadíssimos comentários sobre a atual situação em Chipre. Todos parecem desviar-se, estranhamente, do núcleo geopolítico que emerge
da crise financeira na ilha: energia, nomeadamente gás natural.
Chipre
possui metade das potenciais reservas de gás natural da região
Chipre-Israel-Líbano-Egito. Ao que indica um estudo da US Geological Survey,
do total de 120 triliões de pés cúbicos de gás natural existente no
mediterrâneo oriental, cerca de metade encontram-se nos domínios cipriotas. Há
ainda o gás e petróleo gregos (algo de que quase ninguém fala). De acordo com o
Deutsche Bank, as reservas de gás natural existentes no mar grego cobrem 107%
do PIB daquele país, num valor de 600 mil milhões de euros, mais do que a sua
atual dívida. Ainda segundo a Reuters, um recente estudo geológico aponta que
estas reservas estão localizadas a sul de Creta e correspondem a 6 anos do
total de consumo de gás natural europeu. E estes números só são correspondentes
ao gás natural, pois ainda existem as potenciais reservas de petróleo.
Se as
reservas de gás se confirmarem, a Grécia será o 15º maior produtor mundial
deste combustível.
Portanto, se
somarmos o gás natural grego ao cipriota e israelita, constata-se que a região
do Mediterrâneo Oriental possui um potencial de abastecimento do mercado de
europeu para um consumo de mais de 10 anos. Esta nova plataforma energética
europeia revela-se fundamental para atenuar a dependência extrema do gás fornecido
pela Rússia, o maior abastecedor europeu.
Se a tudo
isto juntarmos a superior posição geoestratégica da ilha, num ponto central
entre o Líbano, Israel, Turquia e Grécia, nota-se que potencial do Chipre tornar
num ponto estratégico para a produção de gás natural, e para a sua expedição via
gasoduto ou então liquefeito por via marítima, é mais do que evidente.
Por tudo
isto não se estranha o interesse da Gazprom russa para resgatar Chipre em troca
da exclusividade dos direitos de exploração do gás e petróleo, face ao autêntico
disparate que a Europa, comandada pela Alemanha, acabou de sugerir com o roubo
de uma percentagem dos depósitos bancários existentes nos bancos cipriotas. Se
a Gazprom concretizar esta proposta, e se conseguir, ainda, adquirir a maior
empresa de gás grega (DEPA), a Alemanha irá colocar nas mãos da Rússia o domínio
logístico e económico ao mediterrâneo. Devido ao conflito político entre a
Grécia e a Turquia verifica-se que a questão energética ainda se torna mais
complexa e delicada. Por isso, de um ponto de vista europeu, a abordagem alemã
face à questão financeira cipriota é claramente incompreensível e ilógica.
Falta ver a
posição dos Estados Unidos face à evolução da dinâmica geopolítica da energia
nesta cada vez mais emergente zona energética europeia. Recorde-se que a americana
Noble Energy detem a licença de exploração do campo de gás off-shore cipriota
Aphrodite (bloco 12 na foto abaixo) onde se estimam existir 7 triliões de pés cúbicos daquele
combustível.

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