quinta-feira, 21 de março de 2013

A CRISE GEOPOLÍTICA NO CHIPRE E A QUESTÃO ENERGÉTICA



Tenho ouvido variadíssimos comentários sobre a atual situação em Chipre. Todos parecem desviar-se, estranhamente, do núcleo geopolítico que emerge da crise financeira na ilha: energia, nomeadamente gás natural.
Chipre possui metade das potenciais reservas de gás natural da região Chipre-Israel-Líbano-Egito. Ao que indica um estudo da US Geological Survey, do total de 120 triliões de pés cúbicos de gás natural existente no mediterrâneo oriental, cerca de metade encontram-se nos domínios cipriotas. Há ainda o gás e petróleo gregos (algo de que quase ninguém fala). De acordo com o Deutsche Bank, as reservas de gás natural existentes no mar grego cobrem 107% do PIB daquele país, num valor de 600 mil milhões de euros, mais do que a sua atual dívida. Ainda segundo a Reuters, um recente estudo geológico aponta que estas reservas estão localizadas a sul de Creta e correspondem a 6 anos do total de consumo de gás natural europeu. E estes números só são correspondentes ao gás natural, pois ainda existem as potenciais reservas de petróleo.
Se as reservas de gás se confirmarem, a Grécia será o 15º maior produtor mundial deste combustível.
Portanto, se somarmos o gás natural grego ao cipriota e israelita, constata-se que a região do Mediterrâneo Oriental possui um potencial de abastecimento do mercado de europeu para um consumo de mais de 10 anos. Esta nova plataforma energética europeia revela-se fundamental para atenuar a dependência extrema do gás fornecido pela Rússia, o maior abastecedor europeu.
Se a tudo isto juntarmos a superior posição geoestratégica da ilha, num ponto central entre o Líbano, Israel, Turquia e Grécia, nota-se que potencial do Chipre tornar num ponto estratégico para a produção de gás natural, e para a sua expedição via gasoduto ou então liquefeito por via marítima, é mais do que evidente.
Por tudo isto não se estranha o interesse da Gazprom russa para resgatar Chipre em troca da exclusividade dos direitos de exploração do gás e petróleo, face ao autêntico disparate que a Europa, comandada pela Alemanha, acabou de sugerir com o roubo de uma percentagem dos depósitos bancários existentes nos bancos cipriotas. Se a Gazprom concretizar esta proposta, e se conseguir, ainda, adquirir a maior empresa de gás grega (DEPA), a Alemanha irá colocar nas mãos da Rússia o domínio logístico e económico ao mediterrâneo. Devido ao conflito político entre a Grécia e a Turquia verifica-se que a questão energética ainda se torna mais complexa e delicada. Por isso, de um ponto de vista europeu, a abordagem alemã face à questão financeira cipriota é claramente incompreensível e ilógica.
Falta ver a posição dos Estados Unidos face à evolução da dinâmica geopolítica da energia nesta cada vez mais emergente zona energética europeia. Recorde-se que a americana Noble Energy detem a licença de exploração do campo de gás off-shore cipriota Aphrodite (bloco 12 na foto abaixo) onde se estimam existir 7 triliões de pés cúbicos daquele combustível. 

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