domingo, 17 de março de 2013

QUEIMAR O SOL "ENTERRADO"

A energia solar é muitas vezes criticada pela sua baixa eficiência – tipicamente apenas cerca de 10% da luz solar que atinge um comum painel solar comercial será convertida em eletricidade. Críticas semelhantes são atribuídas aos biocombustíveis, que têm uma taxa de conversão de energia solar-combustível  inferior a 2%. Mas como comparar essas eficiências com outras fontes de energia como o petróleo?
Primeiro consideremos o seguinte. Na realidade e apesar de tudo o que se possa dizer, apenas existem três fontes primárias de energia: nuclear, geotérmica e solar (pode existir uma pequena exceção que é a energia das marés, alimentada pelas forças gravitacionais tanto do sol como da lua). A energia solar é a fonte original da biomassa, da energia eólica, dos combustíveis fósseis, e até mesmo da energia hidroelétrica. O sol cria gradientes de temperatura na superfície da Terra, que geram o vento. A fotossíntese da biomassa vegetal é produzida por fotões solares. É essa biomassa que ficou enterrada ao longo de milhões de anos e que contribuiu para a formação do petróleo que hoje se extrai do subsolo. As centrais hidroelétricas aproveitam a energia potencial da água. Mas a água tem de surgir de alguma forma. É o sol que cria a água no estado líquido através da evaporação, que é posteriormente libertada sob a forma de chuva.
Essas “fontes” de energia - eólica, biomassa e hídrica - acabam por não ser verdadeiramente fontes primárias de energia. São apenas maneiras diferentes de converter a energia solar noutra forma.
Ao comparar estes tipos de energias, é importante pensar sobre a eficiência com que cada tipo converte a energia solar noutra forma útil de energia. Nos casos da eólica, hídrica e solar, a forma utilizável de conversão é geralmente eletricidade; com biomassa e petróleo, obtemos vários combustíveis líquidos que podem ser usados para mover seu carro ou gerar eletricidade.
Sabemos que a eficiência da conversão do painel solar é de, tipicamente, cerca de 10%, e a eficiência de conversão de sol em biomassa é de aproximadamente 2%. Como se poderá constatar, estes valores acabam por ser muito bons!
Vamos olhar para os combustíveis fósseis, petróleo em particular. Apesar da existência de uma teoria que sustenta a formação inorgânica do petróleo, a ciência continua a explicar a formação deste hidrocarboneto de origem fóssil como o resultado da evolução geológica do planeta. De uma forma simples, o petróleo resulta da acumulação de matéria orgânica vegetal e animal ao longo de milhões de anos que foi sendo coberta por formações rochosas sedimentares cujo peso conjugado com o calor da terra, formou  a matéria negra e viscosa a que chamamos crude ou simplesmente petróleo. Embora existam registos da utilização de uma matéria escura e pastosa na construção de estradas e impermeabilizações ou até mesmo para queima que remontam a 4000 a.c., a era moderna da exploração de petróleo inicia-se em 1859, na Pensilvânia (EUA). Certo é que o “ouro negro” como é hoje designado, se manteve “escondido” durante dezenas de milhões de anos no interior da terra, mais ou menos próximo da superfície. É pelo facto de demorar todo este tempo a formar-se que o petróleo “encaixa” nas designadas fontes energéticas não renováveis.
 Abundante e energeticamente denso, o petróleo permitiu ao mundo desenvolver-se e produzir coisas incríveis. E todos nós consideramos que os combustíveis fósseis, incluindo o petróleo, como fonte de energia, são eficientes. Mas, estes são, na verdade, utilizados como uma forma secundária de energia.
Vamos observar as taxas de eficiência de cada etapa da “produção” de petróleo:
- Primeiro, é necessário luz solar para fazer crescer as plantas (matéria orgânica) através da fotossíntese, num processo de baixa eficiência (1,7%)*.
- Apenas uma escassa percentagem destas plantas (2%)*, ficou “aprisionada” no subsolo da Terra e contribuiu para a formação do petróleo.
- Cerca de 74%* desta biomassa “aprisionada” se transformou em petróleo.
- Apenas cerca de 2,8%* do petróleo formado ficou em jazidas acessíveis e exploráveis.
- Aproximadamente 25%* desse petróleo é recuperável pelo ser humano.
- Cerca de 90% do petróleo extraído é refinado em produtos petrolíferos – incluindo combustíveis - uma vez que cerca de 10% é absorvido no processo de extração e da própria refinação.
- Finalmente, os motores de combustão interna possuem cerca de 20% de eficiência.
Fazendo algumas contas com base nestes números conclui-se que o petróleo enquanto fonte de energia e desde a conversão de energia solar noutra forma de energia (mecânica, eletricidade ou calor) possui uma eficiência de apenas 0,000003%.
Dito de outra forma, se quisermos 1 Watt de energia a partir de painéis solares fotovoltaicos dos que atualmente de vendem, precisamos de cerca de 10 Watt de luz solar. Se quisermos 1 Watt de energia a partir de biomassa, vamos necessitar de cerca de 50 Watt de luz solar. E se pretendermos 1 Watt de energia a partir do petróleo, necessitamos de mais de três milhões de Watt de luz solar.
Felizmente, hoje em dia já não precisamos apenas no processo natural "terrestre" de formação de combustíveis. Temos, ainda, alguma abundância de petróleo armazenado na crosta, mas cada vez mais caro de extrair. Quando este petróleo acabar  temos maneiras  de produzir  combustíveis sintéticos usando biomassa bem mais eficientes do que a forma como o faz a Terra naturalmente. O  petróleo é abundante, por agora, mas como se vê, a energia solar e da biomassa são muito mais eficientes.



(*) Referência:  Burning Buried Sunshine: Human Consumption of Ancient Solar Energy” - Jeffery Duke.

Mesmo considerando outros valores típicos de eficiência por consulta de outras fontes, a ordem de grandeza concluída nesta abordagem não se altera significativamente.





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