sábado, 26 de janeiro de 2013

O TERRORISMO E A ENERGIA: DEPENDÊNCIA E INSEGURANÇA



A recente crise ocorrida num campo de exploração de gás natural na zona leste da Argélia veio relançar o debate e o receio sobre a segurança e a dependência energética, alguns meses após a tensão geopolítica entre o Irão e os Estados Unidos no estreito de Ormuz, importante local de trânsito de petróleo e gás natural entre os golfos Pérsico e de Omã. Um grupo de militantes com ligações à Al-Qaeda liderados pelo “jihadista” Mokhtar Belmokhtar, um bem conhecido terrorista do Magrebe islâmico, tomou de assalto o complexo de In Amenas sequestrando mais 800 trabalhadores de diferentes nacionalidades. O resultado direto deste episódio cifou-se em mais de 80 mortos entre reféns e terroristas. O problema e o impacto deste ataque ultrapassa em larga medida a perda de vidas humanas, a pior consequência do desfecho militar levado a cabo pelo exército argelino. Levanta a questão, muitas vezes “adormecida” da instabilidade que se vive em países que produzem uma boa parte das fontes energéticas que o mundo moderno “devora” insaciavelmente e a um ritmo crescente.
A Argélia é um dos principais abastecedores de gás do sul da Europa. Mais de metade do gás natural importado por Portugal vem deste país norte-africano. A escolha desta estrutura pelo grupo de terroristas não foi ocasional e deveu-se ao apoio da França e da própria Argélia que abriu o seu espaço aéreo à força aérea gaulesa ( a França é outro importante destino do gás argelino) facilitando a intervenção militar no vizinho Mali. Curiosamente, muita da nossa comunicação social pouco ou nada referiu sobre este assunto preferindo continuar a amplificar as deprimentes e vomito-indutoras tricas e quezílias do “debate” político-partidário nacional em vez de acompanhar este terrível acontecimento.
Os terroristas não são como os tigres e outros predadores: a estes, não os conseguimos extinguir, portanto, há que mantê-los controlados e quietos no seu canto. E isso custa dinheiro, muito dinheiro. A escolha de complexos de exploração energética como alvos de atentados é perigosa, oportuna e têm um impacto global impossível de determinar com exatidão. E este episódio vai relançar estas questões a nível mundial: até que ponto são seguras as maiores e mais importantes estruturas de produção de hidrocarbonetos, sendo que um número considerável delas se situa em zonas de grande instabilidade militar e política? Até que ponto uma ação terrorista bem organizada pode lançar o caos na geopolítica energética mundial? Qual o impacto nos preços que teria um ataque massivo e estratégico? Quais as consequências para as nações com maior dependência energética destes países? As dúvidas são muitas mas carecem de respostas concretas, rápidas e sustentadas.
Portugal tem vindo a focalizar-se na diversificação da sua carteira de fornecedores de hidrocarbonetos em zonas seguras. Brasil, Angola e Moçambique são já importantes abastecedores do mercado nacional. É uma estratégia positiva se pensarmos que estes países se situam em zonas de aparente paz. No entanto o impacto de uma crise energética provocada por um episódio de dimensão superior ao de In Amenas não excluiria as consequências num mercado globalizado e sensível como é o da energia fóssil.
Fazendo lembrar uma célebre campanha publicitária, a linha que separa a normalidade do caos no mundo da energia é decididamente ténue e muitas vezes ilusória. E se pensarmos bem, as consequências, até para nós que vivemos neste paraíso natural no meio do nada, seriam devastadoras.
A independência energética, o sonho de qualquer nação neste século, é uma meta difícil. Mas a redução da dependência de países como Portugal deve ser uma prioridade, numa primeira fase.
Mas pior do que a dependência energética é a insegurança e fragilidade do modelo energético atual sustentado pelos hidrocarbonetos e pela sua sensibilidade geopolítica.

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