
A recente crise ocorrida num campo de exploração de gás natural na
zona leste da Argélia veio relançar o debate e o receio sobre a segurança e a dependência
energética, alguns meses após a tensão geopolítica entre o Irão e os Estados
Unidos no estreito de Ormuz, importante local de trânsito de petróleo e gás
natural entre os golfos Pérsico e de Omã. Um grupo de militantes com ligações à
Al-Qaeda liderados pelo “jihadista” Mokhtar Belmokhtar, um bem conhecido
terrorista do Magrebe islâmico, tomou de assalto o complexo de In Amenas
sequestrando mais 800 trabalhadores de diferentes nacionalidades. O resultado
direto deste episódio cifou-se em mais de 80 mortos entre reféns e terroristas.
O problema e o impacto deste ataque ultrapassa em larga medida a perda de vidas
humanas, a pior consequência do desfecho militar levado a cabo pelo exército
argelino. Levanta a questão, muitas vezes “adormecida” da instabilidade que se
vive em países que produzem uma boa parte das fontes energéticas que o mundo
moderno “devora” insaciavelmente e a um ritmo crescente.

A Argélia é um dos principais abastecedores de gás do sul da Europa.
Mais de metade do gás natural importado por Portugal vem deste país norte-africano.
A escolha desta estrutura pelo grupo de terroristas não foi ocasional e
deveu-se ao apoio da França e da própria Argélia que abriu o seu espaço aéreo à
força aérea gaulesa ( a França é outro importante destino do gás argelino)
facilitando a intervenção militar no vizinho Mali. Curiosamente, muita da nossa
comunicação social pouco ou nada referiu sobre este assunto preferindo
continuar a amplificar as deprimentes e vomito-indutoras tricas e quezílias do
“debate” político-partidário nacional em vez de acompanhar este terrível
acontecimento.
Os terroristas não são como os tigres e outros predadores: a estes,
não os conseguimos extinguir, portanto, há que mantê-los controlados e quietos
no seu canto. E isso custa dinheiro, muito dinheiro. A escolha de complexos de
exploração energética como alvos de atentados é perigosa, oportuna e têm um
impacto global impossível de determinar com exatidão. E este episódio vai
relançar estas questões a nível mundial: até que ponto são seguras as maiores e
mais importantes estruturas de produção de hidrocarbonetos, sendo que um número
considerável delas se situa em zonas de grande instabilidade militar e
política? Até que ponto uma ação terrorista bem organizada pode lançar o caos
na geopolítica energética mundial? Qual o impacto nos preços que teria um
ataque massivo e estratégico? Quais as consequências para as nações com maior
dependência energética destes países? As dúvidas são muitas mas carecem de
respostas concretas, rápidas e sustentadas.
Portugal tem vindo a focalizar-se na diversificação da sua carteira de
fornecedores de hidrocarbonetos em zonas seguras. Brasil, Angola e Moçambique
são já importantes abastecedores do mercado nacional. É uma estratégia positiva
se pensarmos que estes países se situam em zonas de aparente paz. No entanto o
impacto de uma crise energética provocada por um episódio de dimensão superior
ao de In Amenas não excluiria as consequências num mercado globalizado e
sensível como é o da energia fóssil.
Fazendo lembrar uma célebre campanha publicitária, a linha que separa
a normalidade do caos no mundo da energia é decididamente ténue e muitas vezes
ilusória. E se pensarmos bem, as consequências, até para nós que vivemos neste
paraíso natural no meio do nada, seriam devastadoras.
A independência energética, o sonho de qualquer nação neste século, é
uma meta difícil. Mas a redução da dependência de países como Portugal deve ser
uma prioridade, numa primeira fase.
Mas pior do que a dependência energética é a insegurança e fragilidade
do modelo energético atual sustentado pelos hidrocarbonetos e pela sua
sensibilidade geopolítica.
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