Há pouco mais de cinquenta anos o geólogo
americano Marion King Hubbert apresentou o célebre modelo da teoria do Pico do Petróleo (Peak Oil). Hubbert defendeu o inevitável esgotamento das reservas de
petróleo do mundo, teorizando que o crescente consumo comparado ao esgotamento
das reservas existentes e diminuição de novas descobertas levaria ao fim do
mundo tal como o conhecemos, cujo desenvolvimento assenta no consumo
desmesurado e irracional deste recurso. Esta projeção resulta num gráfico com a
forma aproximada de um sino que prevê o crescimento do petróleo disponível até
um ponto máximo (pico) seguido por um período de declínio até à exaustão dos
campos petrolíferos.
A teoria de Hubber foi ridicularizada por
muitos especialistas, principalmente os mais ligados ao setor petrolífero.
Outros mantiveram-se atentos e acompanharam a evolução comparativa do que
previra Hubbert com a realidade. Parece que, com um intervalo de erro de poucos
anos, Hubbert terá tido razão ao formular a sua tese do Pico do Petróleo. Só
que o geólogo apenas se referia ao esgotamento do chamado petróleo
convencional, aquele que se extrai a partir de terra ou junto à costa a
profundidades reduzidas. Hubbert não contou com a evolução da tecnologia de
extração nem com as novas descobertas do designado petróleo não convencional.
Muitos dos que atualmente ridicularizam Hubbert têm acesso a uma realidade completamente
diferente. Efetivamente, hoje existe a possibilidade de procurar e extrair
petróleo utilizando técnicas inimagináveis nos tempos de Hubbert, também por
isso, apelidadas de não convencionais. O petróleo de xisto (shale oil), as
areias betuminosas (oil sands), o petróleo de águas profundas e ultra
profundas, entre 2000 e 2500 metros de profundidade, são exemplos de
alternativas emergentes no quadro energético atual. Existe um estudo recente da
brasileira Petrobras – o Brasil é um país líder nas tecnologias petrolíferas
offshore – no sentido de explorar recursos teoricamente existentes abaixo dos
5000 metros de profundidade (camada pré-sal).
A existência destas reservas não são, na
sua maioria, descobertas recentes. Todavia a tecnologia imatura, o custo de
extração e acima de tudo o baixo preço do barril de crude foram durante anos
fatores impeditivos da sua exploração em grande escala. A realidade que o mundo
nos oferece hoje é bem ilustrativa do caminho incontornável que a humanidade
trilha para matar a sua sede de petróleo. Nem as principais agências
internacionais de energia, nem mesmo as gigantes petrolíferas escondem este
facto: as reservas de petróleo convencional continuam a diminuir a um ritmo
preocupante enquanto as novas descobertas seguem a mesma tendência.
Contrariamente, o consumo aumenta impiedosamente sustentando o crescimento dos
países emergentes. Desta forma, não é de estranhar que os processos extrativos
até há bem pouco tempo inviáveis, técnica e economicamente, surjam como a
salvação da humanidade no domínio energético nos próximos anos. Poder-se-ia
perguntar, afinal, se praticamente todos os dias surgem notícias de novas descobertas
não convencionais, qual o motivo que leva a Agência Internacional da Energia a continuamente
prever em alta a evolução do preço do petróleo nos próximos anos.
A
justificação, não sendo a única, reside neste facto incontornável: a extração
será cada vez mais difícil e dispendiosa. O anúncio de novas descobertas,
habilmente manipuladas pelos mercados petrolíferos e especulativos com
estratégicas políticas à mistura podem até, pontualmente, provocar a queda dos
preços mas rapidamente a subida torna-se uma realidade.
Concluindo, só preços altos garantem a
viabilidade da extração destas “novas” formas de produzir o sangue do
progresso. Só não se sabe até quando correrá nas veias desta insustentável
globalização.
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