domingo, 14 de abril de 2013

O NOVO SANGUE DA INSUSTENTÁVEL GLOBALIZAÇÃO

Há pouco mais de cinquenta anos o geólogo americano Marion King Hubbert apresentou o célebre modelo da teoria do Pico do Petróleo (Peak Oil). Hubbert defendeu o inevitável esgotamento das reservas de petróleo do mundo, teorizando que o crescente consumo comparado ao esgotamento das reservas existentes e diminuição de novas descobertas levaria ao fim do mundo tal como o conhecemos, cujo desenvolvimento assenta no consumo desmesurado e irracional deste recurso. Esta projeção resulta num gráfico com a forma aproximada de um sino que prevê o crescimento do petróleo disponível até um ponto máximo (pico) seguido por um período de declínio até à exaustão dos campos petrolíferos.
A teoria de Hubber foi ridicularizada por muitos especialistas, principalmente os mais ligados ao setor petrolífero. Outros mantiveram-se atentos e acompanharam a evolução comparativa do que previra Hubbert com a realidade. Parece que, com um intervalo de erro de poucos anos, Hubbert terá tido razão ao formular a sua tese do Pico do Petróleo. Só que o geólogo apenas se referia ao esgotamento do chamado petróleo convencional, aquele que se extrai a partir de terra ou junto à costa a profundidades reduzidas. Hubbert não contou com a evolução da tecnologia de extração nem com as novas descobertas do designado petróleo não convencional. Muitos dos que atualmente ridicularizam Hubbert têm acesso a uma realidade completamente diferente. Efetivamente, hoje existe a possibilidade de procurar e extrair petróleo utilizando técnicas inimagináveis nos tempos de Hubbert, também por isso, apelidadas de não convencionais. O petróleo de xisto (shale oil), as areias betuminosas (oil sands), o petróleo de águas profundas e ultra profundas, entre 2000 e 2500 metros de profundidade, são exemplos de alternativas emergentes no quadro energético atual. Existe um estudo recente da brasileira Petrobras – o Brasil é um país líder nas tecnologias petrolíferas offshore – no sentido de explorar recursos teoricamente existentes abaixo dos 5000 metros de profundidade (camada pré-sal).
 A existência destas reservas não são, na sua maioria, descobertas recentes. Todavia a tecnologia imatura, o custo de extração e acima de tudo o baixo preço do barril de crude foram durante anos fatores impeditivos da sua exploração em grande escala. A realidade que o mundo nos oferece hoje é bem ilustrativa do caminho incontornável que a humanidade trilha para matar a sua sede de petróleo. Nem as principais agências internacionais de energia, nem mesmo as gigantes petrolíferas escondem este facto: as reservas de petróleo convencional continuam a diminuir a um ritmo preocupante enquanto as novas descobertas seguem a mesma tendência. Contrariamente, o consumo aumenta impiedosamente sustentando o crescimento dos países emergentes. Desta forma, não é de estranhar que os processos extrativos até há bem pouco tempo inviáveis, técnica e economicamente, surjam como a salvação da humanidade no domínio energético nos próximos anos. Poder-se-ia perguntar, afinal, se praticamente todos os dias surgem notícias de novas descobertas não convencionais, qual o motivo que leva a Agência Internacional da Energia a continuamente prever em alta a evolução do preço do petróleo nos próximos anos. 
A justificação, não sendo a única, reside neste facto incontornável: a extração será cada vez mais difícil e dispendiosa. O anúncio de novas descobertas, habilmente manipuladas pelos mercados petrolíferos e especulativos com estratégicas políticas à mistura podem até, pontualmente, provocar a queda dos preços mas rapidamente a subida torna-se uma realidade.
Concluindo, só preços altos garantem a viabilidade da extração destas “novas” formas de produzir o sangue do progresso. Só não se sabe até quando correrá nas veias desta insustentável globalização.

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