Há dias, num dos muitos espaços televisivos nacionais dedicados ao debate político, económico e social, ouvi um economista “desconhecido” nestas andanças do comentário e da opinião sobre a situação económica portuguesa e europeia, responder à inevitável questão acerca da “receita certa” para ultrapassar esta insustentável situação em que o país se encontra. Afirmou, categoricamente, que Portugal deve “olhar” mais para os Estados Unidos e virar costas a um projeto europeu decadente e sem futuro. Esta opinião pareceu-me lúcida e independente, indo ao encontro de uma realidade emergente que assenta nas projeções internacionais sobre o mapa energético mundial decorrente da previsível autonomia energética americana por volta do ano 2035.A discussão sobre o vetor energia costuma estar incompreensivelmente ausente do debate económico. A sua profunda influência no desenvolvimento das nações e das suas economias devia ser refletida com maior frequência e transparência pelos técnicos, políticos, jornalistas, comentadores, etc.
A revolução energética em curso nos Estados Unidos constitui uma ameaça à Europa e promete inverter o mapa industrial do planeta nos próximos anos. O acesso, agora tecnológica e economicamente viável, a reservas não convencionais de gás natural projeta os americanos para o topo da lista das maiores potências mundiais na produção desta fonte energética num horizonte temporal relativamente curto. Tal como a teoria económica e a história explicam, a redução do custo da energia promove a competitividade e a criação de emprego. Isto resultará – e aqui reside a real ameaça – no deslocamento da indústria energeticamente intensiva da Europa para os Estados Unidos, outrora desindustrializados por via da oferta asiática. Estamos a falar da indústria do papel, do aço, do alumínio, do plástico, da borracha, do vidro, etc. Esta deriva já teve início. A gigante da indústria química alemã BASF investiu nos Estados Unidos 5,7 mil milhões de Euros desde 2009 e anunciou recentemente novos projetos em terras americanas. A BAYER, curiosamente também germânica, segue o mesmo caminho.
Atualmente o preço do gás natural nos Estados Unidos é cerca de quatro vezes inferior ao da Europa e assume-se como sendo o fator de mudança no paradigma económico mundial.

Fonte: World Bank Commodity Markets. The Washington Post.
Paralelamente, os americanos estão a deixar de queimar o seu abundante e muito mais poluente carvão e estão a exportá-lo para a Europa, tal como já escrevi aqui. Aqui também ficam a ganhar pois o gás natural é muito menos poluente do que o carvão desequilibrando claramente a balança das emissões para o lado europeu.
Esta é uma realidade afastada da análise política europeia. O setor energético não é avaliado com a profundidade necessária nem lhe é reconhecido o cariz essencial que de facto possui - e essa é uma análise que devemos exigir de quem tem responsabilidade na condução dos destinos do velho continente.
Do outro lado espreita a China que almeja disputar com os americanos a liderança económica mundial. Nos últimos quinze anos conseguiu impor os baixos salários e energia abundante e barata como ativos capazes de atrair a indústria ocidental. Mas o cenário está a mudar e os chineses não revelam possuir os recursos energéticos necessários para ultrapassar os Estados Unidos no topo das economias mundiais. Para se ter uma ideia mais concreta desta “fome” chinesa, dos 472 mil milhões de Euros que a China tem investidos no mundo, 46.9% (231 mil milhões) são no setor energético.
Esta viragem de cento e oitenta graus no mapa energético é apenas mais uma machadada na Europa e muito provavelmente na Ásia. O novo sonho americano está aí, impulsionado por triliões de pés cúbicos de gás natural, libertado das profundezas da terra. E durará até que se esgote ou que o comboio da globalização, “empurrado” pelo petróleo tendencialmente mais caro e difícil de encontrar, pare no meio da linha.
Esta é uma realidade afastada da análise política europeia. O setor energético não é avaliado com a profundidade necessária nem lhe é reconhecido o cariz essencial que de facto possui - e essa é uma análise que devemos exigir de quem tem responsabilidade na condução dos destinos do velho continente.
Do outro lado espreita a China que almeja disputar com os americanos a liderança económica mundial. Nos últimos quinze anos conseguiu impor os baixos salários e energia abundante e barata como ativos capazes de atrair a indústria ocidental. Mas o cenário está a mudar e os chineses não revelam possuir os recursos energéticos necessários para ultrapassar os Estados Unidos no topo das economias mundiais. Para se ter uma ideia mais concreta desta “fome” chinesa, dos 472 mil milhões de Euros que a China tem investidos no mundo, 46.9% (231 mil milhões) são no setor energético.
Esta viragem de cento e oitenta graus no mapa energético é apenas mais uma machadada na Europa e muito provavelmente na Ásia. O novo sonho americano está aí, impulsionado por triliões de pés cúbicos de gás natural, libertado das profundezas da terra. E durará até que se esgote ou que o comboio da globalização, “empurrado” pelo petróleo tendencialmente mais caro e difícil de encontrar, pare no meio da linha.