
Nos últimos quatro ou cinco anos foi “vendida” aos
açorianos a ideia de que o arquipélago se encontra na vanguarda da ciência
espacial. Chegámos mesmo a ler e a ouvir referências a um “cluster espacial" nos Açores. Lançou-se a construção de um parque tecnológico ao qual se deu o
nome, até giro e high-tech, de Nonagon, que albergará (há quem acredite)
empresas como a Microsoft e outras do género. No Pico existe uma estação de
medição da poluição atmosférica em altitude a que dão o
simpático nome de PICO-NARE mas que não passa disso mesmo, um equipamento de
monitorização e registo de dados. Assim como existe na Graciosa uma estação
internacional de deteção de ensaios nucleares com uns quantos sensores que
debitam informação para uma qualquer base de dados informatizada e instalada
sabe-se lá onde. Em Santa Maria existe uma estação de rastreio espacial, com
mais uma antena e afins, que não trouxe nada de novo à região apesar do seu
potencial.
Pelo meio desta verborreia de falácias e falsos
vanguardismos veio a notícia do envolvimento da região no projeto SuperDARN cujo
último episódio ocorreu na passada semana com a assinatura de contratos de
arrendamento de terrenos para a instalação de infraestruturas. As palavras do novo secretário regional que tutela estas matérias de tecnologia, anunciam um
discurso mais realista e cauteloso não escapando, no entanto, à tentação de
fazer com que as coisas pareçam mais do que afinal são. Em primeiro lugar
convém perceber minimamente o que é isto do SuperDARN. Trata-se de um projeto
internacional de nome Super Dual Auroral Radar Network que tem como objetivo
estudar a atmosfera superior da terra e a ionosfera fornecendo aos cientistas
dados que permitam, além de melhor compreender os fenómenos eletromagnéticos nestas
camadas, analisar a propagação e reflexão de ondas de alta frequência. Esta
tecnologia é por muitos relacionada com outro projeto americano, o HAARP (High
Frequency Active Auroral Research Project) dadas as suas semelhanças
concetuais. O HAARP, tido como uma investigação para melhorar as comunicações,
é também apontado como uma tentativa de criar uma “arma climatérica” com a
capacidade de despoletar eventos extremos como secas, cheias, tempestades,
furacões, terramotos ou até mesmo fadiga crónica nas populações. Ainda se
desconhece se a argumentação dos teóricos da conspiração do HAARP tem
fundamento mas os sinais e as análises já publicadas são no mínimo preocupantes..
É importante que se perceba de uma vez por todas que
quem decide trazer estes projetos para a região não somos nós. Para quem
realmente escolhe e decide, somos vistos como nove pedaços de terra que emergem
das águas atlânticas e, ora vejam que sorte, isso até acontece em coordenadas
geográficas oportunas! Isto quer dizer que estas antenas e estações vêm cá
parar assim como iriam “aterrar” em ilhas onde não houvesse um único ser vivo,
se fosse o caso de estarem mais bem posicionadas. Afirmar que estamos na
vanguarda da tecnologia ou que se desenha um cluster espacial regional são
declarações políticas despropositadas. Continuar a afirmar que a presença
destes equipamentos vai dinamizar a economia regional, criar emprego e aumentar
o fluxo de visitantes à região é insistir numa ilusão. E a continuar-se por
essa via, ainda haverá quem queira converter o Parque Urbano de Ponta Delgada
num campo de lançamento de vai-e-vens espaciais ou as Portas do Mar num centro
de lançamento de satélites com a marca Açores.
O Carnaval continua, apenas mudaram as máscaras dos
“matadores” da ciência nos Açores. O setor energético, esse, fica sempre no
fundo da memória de quem sonha com uns Açores vanguardistas. Lembram-se da
central de energia das ondas do Pico, uma das únicas do género no mundo?


Sabem
o que fizeram com este projeto científico? Já agora, sabia que decorre uma
espécie de peditório intitulado “HELP THE PICO POWER PLANT”?
Isto, meus senhores,
é o que se faz com a ciência por estas bandas.
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