quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

CARRO ELÉTRICO: BATERIAS DE LÍTIO-AR EM 2020


Karl Marx disse um dia que a história se repete sempre. Primeiro como uma tragédia e depois como uma farsa. O mundo tende a aceitar os carros eléctricos, puros ou híbridos, como os veículos do futuro. Mas a verdade é que este futuro podia muito bem ser o presente e andarmos todos a conduzir veículos menos poluentes se não fosse a inigualável capacidade humana de cedência a lobbies de interesses económicos em detrimento da sustentabilidade. Pois é, corriam os anos de mil oitocentos e tais, em pleno século XIX, as damas e os cavalheiros de então passeavam-se em luxuosas carroças mas também em… carros eléctricos. Sim, a tecnologia eléctrica em que hoje se projecta o futuro da nossa mobilidade automóvel já existia numa época em que as donzelas vestiam espartilhos e volumosos vestidos, enquanto os homens trajavam fraques e cartolas.
Apesar da simplicidade das tecnologias dessa época, nasceram máquinas que ainda hoje nos fascinam pelo seu engenho e performance. A barreira dos 100km/h, por exemplo, foi atingida em 1899 pelo belga Camille Jenatzy no seu “La Jamais Contente”, um curioso veículo em forma de torpedo. 

"La Jamais Contente"

Em 1900, Ferdinand Porche apresentava um veículo eléctrico já com os motores integrados nas rodas e Waldmar Junger – pai da bateria de Níquel-Cádmio – conseguiu para o seu modelo uma autonomia de 150km. Quando o mítico Ford T – o primeiro carro a ser produzido em massa – saiu da linha de montagem os carros eléctricos eram mais populares do que os veículos com motores de combustão interna, barulhentos, poluentes e que arrancavam com uma manivela tal como se vê nos filmes a preto e branco dessa altura.

Ficheiro:TModel launch Geelong.jpg
Ford T

O ano de 1913 pode muito bem ter sido o início da tragédia da viatura eléctrica. Com a descoberta do motor de arranque eléctrico pela Cadillac, deixou de ser necessário ter um físico de Rambo para pôr a trabalhar um carro. Com esta invenção aliada à queda dos preços do Ford T produzidos em massa, o motor de combustão interna ganha terreno e atira o eléctrico para fora de combate.
Depois, a dar razão ao que apregoava Marx, deu-se um episódio que representa uma autêntica farsa. Na sequência do alarme que soou devido ao problema da poluição, antes ainda da polémica do aquecimento global, alguns fabricantes como a Toyota, a própria Ford ou a General Motors (GM) fizeram renascer o veículo eléctrico surgindo, entre 1996 e 2003, modelos como o RAV4, a primeira geração do Prius ou o mítico EV1 da americana GM. 

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EV1

Inicialmente comercializados em sistema de locação financeira de curto prazo para análise em uso real pelos seus proprietários, rapidamente estes modelos se transformaram num êxito entre aqueles que se davam ao luxo de os poder adquirir. As marcas começaram a ter que lidar com um problema: o sucesso dos seus modelos eléctricos. As inovações raramente chegam à comercialização quando a ideia coloca em causa  o lucro final do inovador. Ou seja, a última coisa que os fabricantes queriam era pôr em causa o altamente lucrativo negócio dos bebedouros de combustível! Não queriam fabricar carros de baixa manutenção quando tinham a possibilidade de produzir viaturas alimentadas a gasolina e diesel que teriam que voltar ao stand para mudar o óleo, fazer a revisão mecânica ou verificações de rotina onde os seus proprietários deixam o seu dinheirinho engordando o lucro dos insaciáveis gigantes da industria automóvel.
A farsa continuou com a entrada em cena de outros figurantes encabeçados pelas empresas petrolíferas. Voltaram a aproveitar o problema da autonomia para descredibilizar o carro eléctrico, compraram as patentes das baterias para travar o seu desenvolvimento tecnológico e impedir que a sua inovação chegasse ao mercado. Ironia das ironias e depois de uma batalha jurídica travada entre os gigantes da industria automóvel e petrolífera, de um lado, e os proprietários das viaturas eléctricas e diversos grupos ambientalistas, do outro lado, os primeiros conseguiram, inclusivamente, fazer vencer a teoria de que os seus próprios carros fariam aumentar a poluição, já que, sendo caros, fariam com que os automobilistas andassem mais tempo com as suas velharias (!). Portanto, haveria que simplesmente exterminá-los como se de um vírus mortífero e sanguinário se tratasse. Foi o que aconteceu, apesar do inglório esforço de grupos de cidadãos e proprietários desses carros que os viram “prensados” como lixo, literalmente falando porque isto aconteceu mesmo! Os pouco modelos que sobraram foram doados a museus e universidades.
Agora, com a necessidade de reduzir as emissões carbónicas e criar um novo cluster de penetração de fontes renováveis, técnicos e engenheiros (talvez os mesmos de há 6 anos) tentam ressuscitar o carro eléctrico procurando soluções para a massificação da tecnologia eléctrica. Não será para já, é certo. Mas a verdade é que, não tivesse a história estes negros episódios, a realidade das nossas estradas podia, hoje, ser bem mais silenciosa, limpa e económica. Bastava que a tecnologia que nasceu no século XIX tivesse seguido um percurso natural de investigação e desenvolvimento como tantas outras coisas – ou pelo menos as coisas em que as grandes corporações não vislumbram ameaças à sua hegemonia.
Entretanto e para que o carro elétrico possa "vingar" há que resolver dois problemas, ambos relacionados com o sistema de armazenamento de energia - as baterias. A este nível coloca-se o preço (o que inflaciona definitivamente o custo das viaturas) e a sua autonomia. Se os atuais veículos comercializados teriam sucesso em ilhas como as dos Açores ou Madeira, ou em pequenas cidades, certo é que a sua massificação só ocorrerá quando conseguirem alcançar maiores distâncias entre cargas. A investigação continua tendo agora Toyota e a BMW anunciado uma parceira para desenvolvimento da próxima geração de baterias de automóveis que se espera vir a ser mais potente do que as de iões de lítio, usadas na maioria dos veículos eléctricos sendo capaz de gerar uma grande parte das necessidades de um carro a partir do consumo de ar. O resultado traduz-se em baterias mais potentes do que as utilizadas actualmente em carros eléctricos.
A nova bateria permitirá aos veículos percorrer cerca de 805 Km com uma carga. As duas empresas anunciaram que o novo sistema estará completo em 2020.
Fonte: IBM Research

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