Para
quem ainda tinha dúvidas, o relatório “Living Planet Report 2012” publicado
pelo World Wide Fund for Nature confirma a insustentabilidade do modelo económico
e de desenvolvimento do mundo moderno. A nossa pegada ecológica, um indicador
da pressão humana sobre a natureza que compara a exploração da biosfera em
contraste com a capacidade regenerativa da Terra e dos seus recursos naturais,
estabelece que, atualmente, o mundo “consome” o equivalente a um planeta e meio
para suportar a sua atividade. A este ritmo e insistindo neste modelo,
continuaremos a exigir do planeta muito mais do que naturalmente ele nos pode
dar. Um dos termos que “nasceu” com a globalização e a internacionalização dos
mercados foi a palavra “commodity”, um anglicismo que significa simplesmente
mercadoria, bem ou matéria-prima, normalmente extraída da terra e que se
carateriza por ter um preço mais ou menos universal sem atender a origens ou
marcas. Como exemplos de “commodities” temos o arroz, o cobre, o algodão, o
feijão, a soja, o trigo, a borracha, o carvão ou o petróleo. Na mudança do
século XX para o XXI deu-se algo curioso e alarmante. O preço do cabaz das
principais “commodities” decresceu a uma taxa média anual de 1,2% durante o
século XX. Isto deu-se apesar dos picos dos preços durante as duas Grandes
Guerras e na crise petrolífera dos anos setenta. Este admirável decrescimento teve
origem no aumento da eficiência dos processos produtivos e fomentou o
crescimento económico global. Todavia, a situação mudou na viragem do século, entre
2000 e 2010. O preço do mesmo cabaz de bens subiu em dez anos, praticamente o
mesmo que caiu durante todo o século XX! O motivo parece ser o extraordinário
aumento da procura dos países em desenvolvimento - China, Brasil, Índia,
Rússia, México, Turquia e outros. O aumento exponencial do consumo destes bens
está a torná-los mais escassos, o que tem duas consequências inevitáveis: por
um lado a subida dos preços aumenta a pressão sobre os sistemas financeiros à
escala global, regional e nacional, especialmente nos países em estagnação ou
contração económica. Outra consequência é que o aumento do consumo está a ter
um impacto cada vez mais nefasto sobre o ambiente, o que, por sua vez, também
afeta negativamente as economias. Não existe melhor exemplo para se perceber
este mecanismo do que considerarmos as “commodities” energéticas.
Fonte: BP Statistical Review
Mais de 80%
das fontes primárias de energia que movem este mundo continuam a ser de origem
fóssil, o que contribuiu decisivamente para o aumento das emissões de CO2 e
para a intensificação das alterações climáticas. Por mais que os profetas da
conspiração o queiram negar, este facto
parece cada vez mais incontornável. Estas por sua vez aumentam a frequência dos
eventos climatéricos extremos que reduzem a produtividade agrícola à escala
regional, afetando negativamente a economia e a segurança alimentar. Com o
aumento da população mundial amplamente atribuída aos países com economias
emergentes, a procura de recursos naturais energéticos continuará a crescer,
embora encontrar novas fontes e assegurar a sua viabilidade económica e
ambiental da sua extração seja cada vez mais crítico e dispendioso. Além disto
satisfazer a procura exige um investimento crescente em inovação e aumento da
produtividade num contexto em que o acesso ao crédito é cada vez mais difícil. Não
restem dúvidas de que estamos perante um paradigma de desenvolvimento mundial
insustentável. É imprescindível uma transição para um novo modelo baseado na
equidade e que associe as necessidades a médio e longo prazo das economias às
variáveis ecológicas e ambientais. É uma transição difícil que irá exigir uma
alteração comportamental de todos nós. E assim será, a bem ou a mal!
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