segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

UM NOVO PARADIGMA: A BEM OU A MAL!


Para quem ainda tinha dúvidas, o relatório “Living Planet Report 2012” publicado pelo World Wide Fund for Nature confirma a insustentabilidade do modelo económico e de desenvolvimento do mundo moderno. A nossa pegada ecológica, um indicador da pressão humana sobre a natureza que compara a exploração da biosfera em contraste com a capacidade regenerativa da Terra e dos seus recursos naturais, estabelece que, atualmente, o mundo “consome” o equivalente a um planeta e meio para suportar a sua atividade. A este ritmo e insistindo neste modelo, continuaremos a exigir do planeta muito mais do que naturalmente ele nos pode dar. Um dos termos que “nasceu” com a globalização e a internacionalização dos mercados foi a palavra “commodity”, um anglicismo que significa simplesmente mercadoria, bem ou matéria-prima, normalmente extraída da terra e que se carateriza por ter um preço mais ou menos universal sem atender a origens ou marcas. Como exemplos de “commodities” temos o arroz, o cobre, o algodão, o feijão, a soja, o trigo, a borracha, o carvão ou o petróleo. Na mudança do século XX para o XXI deu-se algo curioso e alarmante. O preço do cabaz das principais “commodities” decresceu a uma taxa média anual de 1,2% durante o século XX. Isto deu-se apesar dos picos dos preços durante as duas Grandes Guerras e na crise petrolífera dos anos setenta. Este admirável decrescimento teve origem no aumento da eficiência dos processos produtivos e fomentou o crescimento económico global. Todavia, a situação mudou na viragem do século, entre 2000 e 2010. O preço do mesmo cabaz de bens subiu em dez anos, praticamente o mesmo que caiu durante todo o século XX! O motivo parece ser o extraordinário aumento da procura dos países em desenvolvimento - China, Brasil, Índia, Rússia, México, Turquia e outros. O aumento exponencial do consumo destes bens está a torná-los mais escassos, o que tem duas consequências inevitáveis: por um lado a subida dos preços aumenta a pressão sobre os sistemas financeiros à escala global, regional e nacional, especialmente nos países em estagnação ou contração económica. Outra consequência é que o aumento do consumo está a ter um impacto cada vez mais nefasto sobre o ambiente, o que, por sua vez, também afeta negativamente as economias. Não existe melhor exemplo para se perceber este mecanismo do que considerarmos as “commodities” energéticas.


 Mais de 80% das fontes primárias de energia que movem este mundo continuam a ser de origem fóssil, o que contribuiu decisivamente para o aumento das emissões de CO2 e para a intensificação das alterações climáticas. Por mais que os profetas da conspiração o  queiram negar, este facto parece cada vez mais incontornável.  Estas por sua vez aumentam a frequência dos eventos climatéricos extremos que reduzem a produtividade agrícola à escala regional, afetando negativamente a economia e a segurança alimentar. Com o aumento da população mundial amplamente atribuída aos países com economias emergentes, a procura de recursos naturais energéticos continuará a crescer, embora encontrar novas fontes e assegurar a sua viabilidade económica e ambiental da sua extração seja cada vez mais crítico e dispendioso. Além disto satisfazer a procura exige um investimento crescente em inovação e aumento da produtividade num contexto em que o acesso ao crédito é cada vez mais difícil. Não restem dúvidas de que estamos perante um paradigma de desenvolvimento mundial insustentável. É imprescindível uma transição para um novo modelo baseado na equidade e que associe as necessidades a médio e longo prazo das economias às variáveis ecológicas e ambientais. É uma transição difícil que irá exigir uma alteração comportamental de todos nós. E assim será, a bem ou a mal!

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