
No dia 21 de agosto último, mais de um
milhar de pessoas foram mortas na sequência de um alegado ataque com armas
químicas em Ghouta, arredores de Damasco, a capital da Síria. Esta chacina que
deixou o mundo em suspenso, levou os Estados Unidos, Inglaterra, Israel e
França a levantar o espectro de uma intervenção militar concertada contra as
forças de Bashar al Assad, segundo eles o ordenante do ataque. Este é um dos
últimos episódios de um conflito que já assume características genocidas. O
número de mortos ultrapassa as 100.000 pessoas, a grande maioria dos quais
foram assassinados pelas tropas de Assad. Estima-se que 4,5 milhões de pessoas
foram deslocadas das suas casas. Observadores internacionais confirmam a
cumplicidade de Assad na preponderância destes crimes de guerra contra o povo
sírio. A ilegitimidade deste regime e a legitimidade da revolta contra ele é
clara e inequívoca.
Enquanto os EUA e Israel têm tomado a
iniciativa de reafirmar sólidas evidências de que o último ataque foi
claramente perpetrado pelo regime de Assad, algumas questões abrem um leque de
incertezas sobre a origem da chacina. Permanece, agora, a dúvida se o ataque –
que parece irrefutavelmente químico – foi efetivamente ordenado pelo regime que
lidera a Síria ou se terá sido promovido pelos rebeldes com “cumplicidades
externas”.
Esta questão das armas químicas faz
recordar a intervenção militar no Iraque em 2003, quando os Estados Unidos
depuseram o regime de Saddam Hussein com o apoio da Inglaterra e contra a
vontade das Nações Unidas. A justificação da operação baseou-se na ameaça das famosas
armas de destruição maciça iraquianas, as tais que nunca foram encontradas como
já era esperado. Nem químicas, nem biológicas, nem nucleares. Nada foi
encontrado em solo iraquiano. Os reais motivos foram outros, indisfarçáveis aos
olhos do mundo.
A ligação entre a segunda guerra do Golfo
e o conflito sírio parece evidente e tem um único denominador comum chamado petróleo.
É mais do que conhecida a sensibilidade geopolítica desta fonte energética e a
capacidade humana de a usar como arma de controlo dos mercados internacionais. Esta
sim é uma arma devastadora. A questão que parece cada vez mais perturbante e
evidente é: até que ponto chegam ou chegarão as nações, nomeadamente as
ocidentais, no jogo geopolítico do petróleo? Será aceitável admitir que são
capazes de “jogar” com a instabilidade política destes países originando
flutuações positivas nos preços do petróleo potenciando negócios de valor
incalculável aos especuladores da alta finança (a maioria deles americanos e
ingleses)? E ao dizer-se “jogar” será admissível aceitar pacificamente que os
“peões” são os milhares de inocentes seres humanos que perdem a sua vida sempre
que alguém quer ganhar dinheiro? A simples suspeita de uma eminente intervenção
militar na Síria fez disparar os preços do petróleo (WTI e BRENT, este último o
que interessa a Portugal) em mais de 10% em dois ou três dias. A ameaça do
alastramento de um conflito com raízes na Síria que afetaria a complexa teia petrolífera
do Médio Oriente, com a possibilidade sempre presente nestes conflitos de
bloqueio do Estreito de Ormuz por onde passa 20% do petróleo consumido em todo
o mundo, lançou o pânico nos mercados energéticos.
Depois de terem comprado os futuros do
petróleo provocando a queda dos preços com engenhosas manipulações económicas,
é chegada a hora dos especuladores entrarem em ação vendendo caro o que
compraram barato ao longo de meses, enchendo os seus cofres com dinheiro
manchado de sangue inocente.
É este o “jogo” do petróleo com o espetro
da cumplicidade das nações que manipulam tudo e todos. Até porque nem elas
mandam. Manda quem tem o dinheiro!